Depois de inúmeras bobagens que transformaram o País, de referência ambiental, em pária internacional, a Amazônia foi saída da alçada do ministro que não ouve ninguém exceto o chefe. Agora, o ditador do MMA mira suas baterias para a zona costeira. Nunca houve nada parecido ao que acontece hoje desde que o ministério foi criado em 1992. Em sua sanha, Ricardo Salles destrói uma obra coletiva que até pouco era orgulho dos brasileiros. Manguezais e restingas, novas vítimas do algoz ambiental.
Um cargo no Banco Mundial?
Porque não arrumar para ele um cargo no Banco Mundial? Bolsonaro, o decano do ócio no Congresso com 27 anos no anonimato de onde saía apenas quando elogiava torturadores, cedo ou tarde terá de responder por destruir dois ministérios caros aos brasileiros: o da Educação, e o do Meio Ambiente. Além das rachadinhas, a ligação com milicianos, e outras.
Ambos foram entregues a neófitos. E apesar de mudar duas vezes o ministro da Educação, a paralisação é quase total até hoje já com o terceiro ministro.
Já o do Meio Ambiente segue destruindo. O lado bom da notícia é que o escândalo de Salles foi te tal ordem que no dia seguinte da ‘passada da boúada’ dos mangues e restingas, “a juíza federal do Rio de Janeiro, Maria Amélia Almeida Senos de Carvalho concedeu antecipação dos efeitos da tutela, em ação popular movida contra a medida, por entender que há risco de danos irreparáveis ao meio ambiente.”
MMA contra o Fundo Amazônia
Logo que começou sua gestão, ele criou atritos com dois aliados, Noruega e Alemanha, que ajudavam a financiar as ações do MMA no combate ao desmatamento. Salles implodiu o Fundo Amazônia que chegou a receber cerca de R$ 3,4 bilhões de reais em doações.
MMA contra o CONAMA
Criado em 1981, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA é o órgão consultivo do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA. O conselho, que tem como objetivo criar e aprovar diretrizes e políticas governamentais para o meio ambiente, estava inchado com cerca de quase 100 membros, mas tinha composição técnica e independente.
Salles, imperial pouco dado à democracia, mudou a composição. De quase 100 conselheiros, para 23. E concentrou o poder de decisão com os membros que representam o governo.
O papel do CONAMA passou a ser decorativo desde então.
MMA contra a COP 25
Ainda no primeiro ano fez o segundo papelão internacional, ao quase acabar com a COP 25 onde Salles diz “que foi cobrar dos países ricos financiamento para compensar a redução das emissões de gases de efeito estufa alcançada pelo país nos últimos anos.”
A visão de mundo dele é digna da do chefe: primária. Primeiro, ele detona o fundo internacional criado para contribuir pela manutenção da floresta. Depois, vai ao exterior cobrar?
A grita foi geral. Como consequência, a Amazônia foi saída da pasta do Meio Ambiente e entregue ao vice Hamilton Mourão. Houve um alento. Mas não durou muito.
Depois de enfraquecer ainda mais os órgãos que comanda, de proibir entrevistas de funcionários do Ibama e ICMBio instaurando o terror nas autarquias, Ricardo Salles vira suas baterias contra a zona costeira.
Manguezais e restingas, novas vítimas do algoz ambiental
Em 28 de setembro o conselho de Salles aprovou a extinção de duas resoluções que criaram as áreas de proteção permanente (APPs) de manguezais e de restingas do litoral brasileiro.
Não há nada que justifique a ação, a não ser mais uma vez a profunda ignorância do ministro que não conhecia a Amazônia até ser alçado ao cargo. Ele prova agora que também desconhece os problemas da zona costeira brasileira onde a erosão se alastrou e já atinge perigosos 60% do litoral do País.
Manguezais são protegidos no mundo inteiro que os dispõem pelos serviços ecossistêmicos que prestam, entre eles, proteger a linha da costa contra a erosão. Mas isto é apenas uma parcela pequena um dos serviços.

Depois dos recifes de corais, considerado o mais rico ecossistema marinho, vem o manguezal.
Berçário de vida marinha
Os mangues são habitat de ostras, cavalos-marinhos, quelônios, peixes-boi, alguns tipos de tubarões, moluscos, crustáceos, aves marinhas, mamíferos, répteis, anfíbios e muitos tipos de peixes.
Sequestro de carbono
A conservação de manguezais não apenas previne a perda de habitats, mas também ajuda a regular as emissões de carbono. Eles também são chamados como “ecossistemas de carbono azul” (manguezais, gramas marinhas e outros).
Os manguezais podem ser até 10 vezes mais eficientes do que os ecossistemas terrestres na absorção e armazenamento de carbono a longo prazo, tornando-os uma solução crítica na luta contra as mudanças climáticas que o ministro do Meio Ambiente não acredita existir.
Todos perdem menos a carcinicultura
Todos perdem com a perda de proteção, exceto a famigerada carcinicultura. A criação de camarões feita em áreas de mangues nordestinos extirpados é um desastre.
Uma mamata para ‘produtores’ que sequer pagam pela área que usam para produzir. Mangues são áreas públicas que, no caso do Nordeste, foram doadas aos ‘amigos do rei’ para a produção mais insustentável que existe.

A destruição é tão forte que a produção brasileira sofreu boicote internacional e hoje é vendida quase exclusivamente no País. Você pode ajudar usando o seu papel de consumidor. Antes de levar para casa, consulte o rótulo do produto. Se for do Nordeste, evite; prefira o camarão oriundo do Sudeste.
Comentamos que estamos praticamente sozinhos na luta e alerta à sociedade sobre a carcinicultura. Desde 2005 denunciamos quase solitariamente o descalabro. Agora, com esta medida, o grande público talvez tome ciência dos problemas da criação de camarões no País, e entenda que, assim com o agronegócio, o ministro também é ‘casado com a carcinicultura’.
As restingas
Espécie de vegetação com até dois metros de altura, com ervas, arbustos e arvoretas densamente emaranhados e bem característicos. Essa é a restinga.

Um dos tipos de vegetação que compõe o bioma Mata Atlântica, que se manifesta em porções ainda conservadas em quase todo o litoral brasileiro.
Restingas também mitigam a erosão
Entre muitas funções, as restingas também contribuem para mitigar a erosão costeira. Segundo a especialista Márcia Marques, da Universidade Federal do Paraná, “as raízes das plantas das restingas são capazes de reter as partículas de areia vindas do mar, exercendo portanto uma importante função de barreira para os processos de erosão provocados nos períodos de ressacas do mar.”
Controle dos regimes de inundação
A mesma especialista explica outra de suas funções: “A vegetação também é responsável por ajudar no controle dos regimes de inundação, porque, ao absorver a água do solo, lança umidade por transpiração para a atmosfera, regularizando o ciclo da água.”
Manguezais e restingas, novas vítimas do algoz ambiental, e felicidade dos especuladores imobiliários
Ao acabar de uma só vez com a proteção dos dois tipos de vegetação, Ricardo Salles faz o mesmo que Jair Bolsonaro ao demonizar as multas do Ibama: abre as portas para a especulação imobiliária que já domina grande parte do litoral brasileiro.
É burrice demais no momento em que a sustentabilidade é a bola da vez. Não basta a fuga de capitais, negada em reunião da ONU, mas percebida e registrada pelos agentes econômicos?
Segundo O Estado de S. Paulo, “A Rede Sustentabilidade entrou com ação no Supremo Tribunal Federal, com pedido para que seja declarada a inconstitucionalidade da nova resolução do Conama, de número 500.”
Houve mais mudanças nesta reunião dos amigos de Salles. Uma delas, a pedido da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, envolvia licenciamento para projetos de irrigação, caiu; e a aprovação de nova regra “para permitir que materiais de embalagens e restos de agrotóxicos possam ser queimados em fornos industriais para serem transformados em cimento, substituindo as regras que determinavam o devido descarte ambiental desse material.”
Temos que torcer pela decisão do STF e nos preparar para a pressão pelo fim do Licenciamento Ambiental, na mira da banda podre do agronegócio, e do executor da política ambiental do amigo de milicianos enrolado com rachadinhas que não tem vergonha da imensa burrice ao destruir uma obra coletiva que começou a duras penas, ainda na ditadura, graças à visão de Paulo Nogueira Neto.
O abestado do Meio Ambiente
E para quê, além de nos intrigar com o mundo do qual dependemos? Enquanto Salles segue destruindo a legislação ambiental, a economia patina, as reformas estruturais não avançam, e o decano do ócio veta o perdão das dívidas tributárias de igrejas com uma mão, e com outra defende que o próprio veto seja derrubado no Congresso.
Um circo de horrores chefiado por um capitão de péssima fama ao seu tempo de Exército, cujo principal admirador é pau-mandado, o abestado rapaz do Meio Ambiente.
Imagem de abertura: manguezal do Pará
Fontes: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,parlamentares-vao-ao-supremo-para-derrubar-decisao-de-salles-sobre-flexibilizacao-no-meio-ambiente,70003455615; https://www.conjur.com.br/2020-set-29/justica-suspende-revogacao-normas-protegem-restingas-manguezais?fbclid=IwAR36s4sZmS8-5gKJWkXZcCna6VIr2Yg-2LUNXvEuavZoZcz-P_dqQrbVkx4.
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