Eleita pelo Financial Times a mulher do ano de 2014, Marina Silva baseia sua filosofia de vida na fé, determinação e proteção do meio ambiente

Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima (Seringal Bagaço, 8 de fevereiro de 1958) nasceu e viveu até os 16 anos em um seringal no Acre. Depois de sobreviver a cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose, mudou-se para Rio Branco, e se alfabetizou pelo Mobral.
Mais tarde, se formou em História e, na política, integrou o Partido Revolucionário Comunista, ao lado do sindicalista Chico Mendes, de quem seria vice na CUT-AC. Já no PT, em 1988, foi vereadora. Também foi deputada estadual e, em 1995, tornou-se a mais jovem senadora eleita no País, aos 36 anos, tendo renovado o mandato ficado no cargo até 2011.
Foi ministra do Meio Ambiente nos dois mandatos de Lula, mas na reeleição do Presidente começou a divergir do governo e deixou o cargo em 2008. Em agosto de 2009, Marina trocou o PT pelo PV, para se lançar candidata à Presidência da República. Foi derrotada nas urnas e, em 2013, articulou para a fundação do seu novo partido, o Rede Sustentabilidade.
Foto: Alexandre Severo/PSB
DADOS BIOGRÁFICOS DA MINISTRA MARINA SILVA
Eleita pela primeira vez para o Senado em 1994, Marina Silva (PT do Acre) foi naquela ocasião, aos 36 anos, a senadora mais jovem da história da República, tendo sido a mais votada entre os candidatos de seu estado. Em 2002 foi reeleita com uma votação quase três vezes superior à anterior. Foi designada Ministra de Estado do Meio Ambiente pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva e tomou posse em 1º de janeiro de 2003.
Marina nasceu em 8 de fevereiro de 1958, na colocação (espaço explorado por uma família dentro do território do seringal) Breu Velho, no Seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, capital do estado, para onde foi aos 16 anos. Seu primeiro emprego foi de empregada doméstica. Nessa época, alfabetizou-se pelo antigo Mobral, fez supletivo e, aos 26 anos, formou-se em História pela Universidade Federal do Acre. No mesmo ano – 1985 – filiou-se ao PT. Participou das Comunidades Eclesiais de Base, de movimentos de bairro e do movimento dos seringueiros.
Em 1984 foi fundadora da CUT no Acre. Chico Mendes foi o primeiro coordenador da entidade e Marina, a vice-coordenadora.
Nas eleições municipais de 88 foi a vereadora mais votada em Rio Branco e conquistou a única vaga de esquerda na Câmara Municipal. Em 1990 candidatou-se a deputada estadual, sendo novamente a mais votada. Uma pesquisa da Universidade Federal do Acre mostra que Marina teve a melhor atuação parlamentar naquela legislatura.
No Senado Federal, é vice-presidente da Comissão de Assuntos Sociais e membro titular da Comissão de Educação. Foi vice-presidente da Comissão Especial do Congresso de Combate à Pobreza, criada por proposta de sua autoria. Foi líder da bancada do PT e Bloco de Oposição no ano de 1999.
Foi escolhida em 2002, pelo quarto ano consecutivo, uma dos cem parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, pela publicação “Os Cabeças do Congresso”, pesquisa suprapartidária coordenada pelo DIAPDepartamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
Também em 2002 Marina Silva teve duas biografias lançadas, uma no Brasil e outra nos Estados Unidos. A primeira – “Marina Silva” – faz parte da coleção “Fé e Política”, da Editora Salesiana, de São Paulo. A segunda, intitulada “Marina Silva – Defendendo as comunidades da floresta tropical no Brasil” (no original, “Marina Silva – Defending rainforest communities in Brazil”), é da editora The Feminist Press, da Universidade da Cidade de Nova Iorque. Faz parte da coleção “Mulheres Mudando o Mundo” e a autora é Ziporah Hildebrandt.
Marina Silva é casada com Fábio Vaz de Lima, tem três filhas – Shalom, de 21 anos; Moara, de 12, e Mayara, de 10 – e um filho, Danilo, de 20 anos.
PRÊMIOS E HOMENAGENS RECEBIDOS
- Placa e Título de Sócia Honorária da Fundação Chico Mendes – Xapuri/AC, 2001
- Prêmio Goldmann de Meio Ambiente, como representante das Américas do Sul e Central – São Francisco/EUA – 1996
- Prêmio Jorge Marskell “Em Defesa das Águas, da Floresta e dos Povos que Nela Vivem” – Comissão Pastoral da Terra – Manaus/AM, 1999
- Homenagem a “25 Mulheres em Ação no Mundo pela Vida na Terra”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – ONU, Nova York/EUA, 1997
- Chave da capital do Estado do Texas – Austin/EUA, 2000
- Medalha Almirante Tamandaré – Marinha do Brasil – Brasília/DF, 1999
- Mulher do Ano – revista “Miss Magazine” – Washington/EUA, 1997
- Prêmio “Jovens de Futuro no Mundo” – revista “TIME” – Nova York/EUA, 1995
- Mulher do Ano – Conselho Nacional das Mulheres do Brasil – Rio de Janeiro/RJ, 1998
- Prêmio Carlito Maia de Cidadania – revista Imprensa – São Paulo/SP, 2002
- Ordem do Mérito Judiciário – Tribunal Superior do Trabalho – Brasília/DF, 2001
- Prêmio TOP ECO – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – São Paulo/SO, 2001
- Prêmio CREA – Conselho Regional de Enmgenharia e Arquitetura – Rio de Janeiro/RJ, 2001
- Prêmio FASE “Solidariedade e Educação – FASE – Rio de Janeiro/RJ, 2001
- Homenagem do PT Nacional nos 20 anos do partido – São Paulo/SP, 2000
- Ordem do Mérito Dom Bosco – Tribunal Regional do Trabalho – Brasília/DF, 2000
- Comenda Verde Minas Brasil – Belo Horizonte/MG, 1999
- Instituição do Prêmio Marina Silva para o melhor trabalho referente a Meio Ambiente – Universidade Estadual do Vale do Acaraú – Sobral/CE (concedido anualmente desde 1998, durante a Semana de Meio Ambiente, em junho)
PRINCIPAIS PROJETOS
Durante seu trabalho no Senado, a Ministra Marina Silva apresentou 43 projetos. Dentre eles, destacam-se:
- Projeto da Lei de Acesso à Biodiversidade. Disciplina o acesso aos recursos da biodiversidade brasileira e ao conhecimento das populações tradicionais.
- Projeto do FPE Verde – cria reserva de 2% do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal para os estados que tenham, em seus territórios, Unidades de Conservação federais e terras indígenas demarcadas.
- Projeto do Orçamento Social – dá outra estrutura para o orçamento do país, de maneira a obrigar que as verbas destinadas a gastos sociais como educação, saúde, assistência social, saneamento, habitação popular e reforma agrária sejam efetivamente aplicadas nesses setores.
- Projeto da Responsabilidade Social – junta ao conceito de responsabilidade fiscal, já estabelecido em lei, a exigência de que os governantes também sejam induzidos a cuidar da área social.
SUSTENTABILIDADE
A relação próxima de Marina Silva com o meio ambiente é muito evidente. Ela pode não mais residir na floresta, mas a floresta ainda está dentro dela. Para Marina, a interação íntima com o ecossistema é real e permanente. “Nasci no meio da floresta, onde nossa existência social, material, econômica, simbólica e cultural dependia da floresta. Isso fazia parte da minha vida. Depois, fazendo algumas conexões, percebi que é muito incoerente você dizer que ama o Criador, mas não cuidar da criação”, comenta.
A entrevista de quase uma hora para a Revista Adventista foi concedida na residência de uma das suas filhas, em Brasília, em uma sala decorada com referências que remetem imediatamente ao lugar em que Marina nasceu. As cores da mobília, os artefatos indígenas pendurados, as plantas que ornamentam, tudo provoca uma viagem mental à Amazônia.
Pouco depois de iniciar a entrevista, um gostoso suco de maracujá foi servido a todos na sala. “Esse maracujá foi plantado aqui, é daqui mesmo”, anunciou Marina, orgulhosa de poder dizer que ali se bebe do que a natureza oferece. No fim da entrevista, a primeira coisa que ela fez questão de mostrar foi de onde tinha vindo a fruta.
Essa é Marina Silva. Alguém que, para sobreviver numa região sem qualquer atendimento básico de saúde, aprendeu tudo sobre plantas medicinais com um tio que viveu 25 anos entre povos indígenas.
A conexão entre fé e sustentabilidade veio um tempo depois na vida da professora de história, que fez especializações em terapia psicanalítica e psicopedagogia. De memória, Marina Silva cita diferentes textos bíblicos e os aplica ao conceito de preservação do que ela considera a criação de Deus. A ambientalista enfatiza que, conforme o livro de Gênesis, Deus colocou o homem no jardim do Éden para o cultivar e guardar. “Esse domínio da terra e de tudo o que há, em Gênesis, não é com os nossos referenciais de um jugo pesado. É um domínio amoroso, respeitoso”, interpreta.
POLÍTICA
Os exemplos de sua família humilde, mas extremamente devotada ao trabalho e à justiça social, foram ensinamentos tão fortes que ainda norteiam sua carreira. A mãe, que era costureira, tinha um forte espírito de serviço na comunidade. “Ela fazia desde roupas de batismo até vestimentas para funerais. Tudo isso de graça. Servia no que era necessário. A ideia de serviço e de solidariedade eu aprendi no contexto em que é mais propícia: a escassez. Contexto em que você sobrevive apenas se houver solidariedade”, explica.
Engajada desde cedo na política e religião, Marina tem um pensamento ao qual resume assim: “Nunca faço do púlpito um palanque e nem do palanque um púlpito”. Seus valores pessoais e os defendidos como pessoa pública se combinam bem, mas ela ressalta a necessidade de respeito à liberdade de expressão religiosa dos outros. É uma defensora assumida do Estado laico, que assegure os direitos dos que creem e dos que não creem.
Defensora do diálogo, ela admite que existe preconceito dos dois lados: tanto dos que demonstram sua fé quanto dos que afirmam não professar fé nenhuma. “Às vezes, há uma pressa muito grande em rotular, quando deve haver abertura para o diálogo, inclusive para que se possa entender melhor o ponto de vista do outro e colocar o seu”, esclarece.
Marina enxerga uma contribuição importante da comunidade cristã para a sociedade e mesmo para a política, mas chama a atenção para a instrumentalização da religião para favorecimento de apenas determinados grupos. Apesar de ser membro de uma igreja e frequentar sempre que possível os cultos dessa denominação, a ex-candidata ao Palácio do Planalto foge do estereótipo de ativista política evangélica. Em campanhas para cargos eletivos, sempre evita convocar reuniões ou comícios em congregações religiosas e dá preferência a espaços neutros. Ela entende seu papel como alguém que precisa trabalhar para favorecer não apenas os evangélicos ou cristãos, mas toda a sociedade.
SAÚDE INTEGRAL
A relação com a Igreja Adventista surgiu desde cedo. Suas duas filhas, a advogada Moara Silva e a jornalista Mayara Lima, estudaram durante cinco anos em internatos adventistas. Ambas são membros da igreja. E seu marido, Fábio Vaz de Lima, foi batizado no ano passado.
Uma das características que a ambientalista mais admira na denominação é a preocupação com a saúde das pessoas. Ela elogia também o perfil dos colégios adventistas. Mas, ao mesmo tempo, espera que os adventistas falem e ajam mais para promover a saúde do ecossistema, pois não se pode falar de estilo de vida saudável em um planeta doente.
O recado especial é de quem não apenas conhece o tema teoricamente, mas que aprendeu que o meio ambiente é fonte de sustento, de ensino e de fortalecimento de dois princípios muito importantes que a fizeram ser uma referência internacional: a fé e a determinação. FELIPE LEMOS é jornalista
FONTES:
Mais histórias
Sustentabilidade, Por: Instituto Butantan.
A História da Legião Urbana